A experiência de bardo — Trecho do livro “Transcendendo a loucura”

Ao considerar a experiência dos bardos, lidamos com o aspecto realista do processo de mudança desde o nascimento até a morte, o processo intermediário entre nascimento e morte. Não estamos tentando provar de forma lógica ou teológica que a vida após a morte é importante e que você deve aceitar isso por meio da fé. Em muitos casos, especialmente no Ocidente, as pessoas tentam provar a existência de vida após a morte, dizendo: “Aquele santo ou sábio era uma ótima pessoa em vida e foi um ser cujo exemplo é indiscutível, e ele também dizia que existe vida após a morte”. Isto é tentar provar a noção de vida após a morte por insinuação: “É verdade porque se tratava de uma pessoa iluminada e afirmou isso!”. Quando tentamos provar a questão da vida após a morte dessa maneira, não temos provas verdadeiras. A única coisa que podemos provar é que se tratava de uma pessoa desperta e que ela fez essa afirmação.

Há quase uma sensação de redescoberta. As tradições orientais foram capazes de apresentar ao mundo ocidental a concepção de que nada tem um caráter fatalista, mas tudo está continuamente em crescimento como um processo evolutivo, em desenvolvimento. Muitos ocidentais consideram essa visão muito útil e esperançosa. Eles não precisam mais apenas esperar pela morte, mas há algo esperançoso — a mensagem de continuidade, de que você tem uma outra chance. Mas eu considero todos esses pontos de vista e atitudes relativas à ideia de renascimento, reencarnação e karma muito simplórias. Além disso, começamos a sentir que podemos nos permitir errar, porque certamente teremos outra chance. Vamos voltar e poderemos nos sair melhor. Muitas vezes, as pessoas que têm medo de morrer foram salvas ao tomar conhecimento da ideia de reencarnação. Deixam de temer a morte ou, mesmo que ainda a temam, tentam contemplar a ideia de renascimento, o que as salva desse medo. Não considero que essa seja uma maneira aprofundada de considerar a situação.

A qualidade fatalista da vida e da morte depende da situação presente. A situação presente é importante — é a ideia central, a questão importante. Quer você continue ou não, você é o que é no momento. E há seis tipos de limiares psicológicos, ou experiências de bardo, durante a sua vida. Entraremos em detalhes, se você não considerar isso uma proposição intelectual muito complicada. Talvez você possa perguntar: “Vale a pena especular acerca de todos esses seis tipos de experiências de bardo? Por que, simplesmente, não nos sentamos, meditamos, e esquecemos todo esse jargão?” Bem, isso é muito mais fácil dizer do que fazer. Para começar, quando nos sentamos e meditamos, essas cobranças surgem. Acontecem continuamente no processo de pensamento. Pensamentos discursivos, pensamentos argumentativos, pensamentos de autonegação — todo tipo de pensamento começa a surgir. Portanto, parece importante saber algo sobre eles. Em outras palavras, você pode fazer uso desses pensamentos, em vez de fingir que está tudo bem e tentar suprimi-los, como se você não necessitasse mais deles, ou eles não necessitassem mais de você.

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