Um trecho do livro Compaixão agora!, do 17º Karmapa:
"O budismo se baseia em compaixão no sentido de que os ensinamentos do Buda (quando ele ofereceu certos ensinamentos em determinados momentos para determinadas pessoas) eram baseados inteiramente em finas distinções entre os indivíduos. Distinções essas que surgem por meio da observação, de um olhar compassivo. Isso significa que o Buda sempre ensinou de modo que tudo se adequasse às disposições, aos interesses e às situações específicas daqueles seres para quem ele estava ensinando, naquele momento. Portanto, nos casos em que uma explicação direta da natureza das coisas –
como vacuidade e assim por diante – não fosse de ajuda, o Buda não daria a tal explicação. Então, encontramos alguns dos ensinamentos do Buda em que ele dizia que o eu existe porque, assim falando, ele estava sendo do maior benefício possível para aqueles seres específicos a quem ele estava ensinando naquele instante. O ponto por trás de todo ensinamento do Buda é uma conformidade compassiva às reais necessidades dos seres.
Dessa forma, o Dharma do Buda é definido pela compaixão; podemos dizer que qualquer yana ou “veículo” do budismo é essencialmente ensinado e praticado
de acordo com a motivação de uma pessoa ou outro tipo de compaixão. Isso é igualmente verdade no que convencionalmente chamamos de o menor e o maior veículos. A única distinção que podemos fazer entre as diferentes motivações é o que chamamos de uma compaixão focada exteriormente e uma focada interiormente. Por “compaixão focada exteriormente” quero dizer a observação do sofrimento dos outros e a busca resultante por uma solução para aquele sofrimento alheio, que é o que convencionalmente chamamos de “compaixão”. No entanto, quando a mesma busca por uma solução para o sofrimento está focada no interior, na observação do próprio sofrimento e na busca por uma solução para isso, que é outro tipo de compaixão, chamamos de
“compaixão focada interiormente”, ou renúncia.
Portanto, as motivações para o caminho da renúncia e para o caminho da compaixão realmente diferem apenas pelo fato de uma ser internamente focada e a outra ser externamente focada. Ambas são fundamentalmente iguais no modo pelo qual desejam libertar um ser ou seres do sofrimento e das causas dele. Quando esse desejo é aplicado ou focado nos outros, chamamos a isso de compaixão; quando é aplicado a nós mesmos, chamamos de renúncia."