Trecho da biografia de Jetsunma Tenzin Palmo (A caverna na neve), em que ela narra o medo do feminino, o machismo e todas as dificuldades que enfrentou em seu treinamento.
Tenzin Palmo foi em frente em meio a tudo isso — a discriminação, o preconceito, as humilhações — por um longo período. Não havia ninguém para aconselhá-la de outra forma. Ela nunca tinha ouvido falar em liberação da mulher, nunca viu uma queima de sutiãs, nunca tinha lido as palavras revolucionárias de Germaine Greer em A mulher eunuco: “As mulheres não fazem ideia do quanto os homens as odeiam. Ela tinha deixado a Inglaterra muito antes de tudo isso acontecer. Mais especificamente, não havia gurus mulheres para pedir ajuda.
“Foi apenas gradualmente que comecei a pensar: não, espere aí, isso não está certo — e a ficar muito triste”, diz ela. A coisa toda atingiu o ápice em um momento significativo. Foi aí que Tenzin Palmo fez o voto que inspiraria centenas de mulheres em todo o mundo quando mais tarde ouvissem falar disso. O voto de atingir a iluminação como mulher.
“Foi num momento de pura frustração, depois de ter sido rejeitada mais uma vez em função de ser mulher. Fiz o seguinte voto sincero: vou continuar a assumir forma feminina e atingir a iluminação!”, ela contou, bufando com indignação. “Eu estava tão exasperada com o machismo terrível ao meu redor. Pensei: ‘Esqueçam! Não quero nascer em um corpo masculino sob tais circunstâncias’. E então fiz a seguinte prece forte: mesmo que eu não faça muito nesta vida, que no futuro este fluxo de consciência possa ir em frente e assumir a forma transitória de mulher ao invés de homem.”
Ela não era particularmente militante. Acontece simplesmente que o equilíbrio de poder no campo espiritual tinha que ser corrigido. “Claro que ser homem ou mulher é relativo, mas neste momento estamos vivendo em um plano relativo, e o caso é que há uma imensa escassez de professores espirituais femininos. Então, ser mulher neste momento é mais útil”, diz ela com simplicidade.